Ainda posso sentir a brisa suave a bater em meu rosto. Em meu primeiro suspiro avisto a doce face daquele que me criou a sorrir para mim, como que querendo demonstrar com um sorriso o tamanho de seu amor.
A vida era assim, como a existência de luz onde outrora nada havia; continuava assim enquanto eu dava nome a cada um dos animais que ele próprio me trazia como que investindo em uma profunda amizade.
Uma amizade sem fim; uma amizade além da própria vida.
Ele me disse: “Não coma para que não morra! (Gênesis 2.16 e 17 ), eu te criei para viver eternamente e desfrutar de minha presença sempre que você quiser!”.
Dias se passaram e em apenas um ato de rebeldia eu coloquei em desordem toda a ordem natural das coisas. Causei conseqüências em todo o universo. O que era puro tornou-se manchado, o que era lindo ficou borrado, o que era doce tornou-se amargo (Romanos 8. 20 a 22). A terra tornou-se maldita por minha causa. (Gênesis 3.17)
O criador mesmo me amando infinitamente mais do que eu podia imaginar não podia voltar atrás de sua palavra por causa de sua própria prerrogativa de caráter, ser justo.
E a justiça foi feita, quem nunca deveria ter morrido morreu, a morte trouxe consigo o medo, o medo a incerteza, o futuro agora é incerto.
O futuro? Que futuro? O futuro da vida em meio à morte.
Sendo um criador misericordioso sua graça permitiu que a existência do universo fosse mantida (graça comum). A graça simplesmente como expressão de sua bondade e mantida por sua vontade uma vez que eu já não merecia mais nada a não ser a morte.
Seu amor me doou uma promessa, há de vir alguém do meio de meus filhos(Gênesis 3.15 ) que vencerá a morte, pois a morte não o poderá conter. (Atos 2.24)
Enquanto sonho com o dia em que o verei face a face (1Coríntios 12.13, Apocalipse 22.4) posso contemplar em que eu me tornei, um ser cheio de ódio e egoísmo que às vezes me assusta a mim mesmo.( Romanos 7.24)
Não fui criado para a morte, a morte apareceu como fruto de minha total incapacidade de ser gente, gente como o criador sonhou um dia.
Mas a morte está sempre diante de mim? Não fui criado para morrer! Sou um ser eterno que morre?
Sim, e a morte trouxe consigo o medo (Gênesis 3.10). São tantos os medos que fico confuso ao descrevê-los, talvez o maior deles é de não ser amado e viver só.
Fomos criados para nos relacionar, nossa essência está na relação com o criador, a falta desta relação nos torna seres incompletos e inceguros, tenho certeza que você já sentiu assim, com medo de não ser amado, com medo de não ser bom o suficiente para ser aceito por outros.
Por conta deste medo me tornei alguém que já não conheço mais, coloquei uma máscara para ser bem visto por todos, a máscara da minha auto-suficiência (Gênesis 3.5 e 6), da minha grandeza que só esconde, na verdade, toda minha insegurança e medo.
Quando olho para o lado percebo uma sociedade formada por muitos como eu, todos com muitas máscaras que nos tornam aparentemente mais bonitos, todos reféns da expectativa de outras pessoas.
Tudo é valido para ser aceito, menos demonstrar quem realmente somos.
Outro medo patente em mim é o medo da morte. A cada ano vencido me aproximo de uma realidade inevitável a todos os seres iguais mim, e como eu a temo.
Por causa de minha culpa hoje reina a morte.(Romanos 5.12)
Faz tanto tempo que eu não vejo a face do criador que chego a duvidar de sua existência, passo dias conjecturando o que me espera além da vida.
O que existe por trás da cortina da existência?
Hoje descobri que não fui feito para a morte (João 8.51).
Hoje descobri que o criador colocou dentro de mim uma sede insaciável do que é eterno, sede de minha própria natureza eterna.(Eclesiastes 3.11)
Muitos com quem me relaciono convivem diariamente com a mesma sede que eu, sentem o mesmo vazio avassalador no peito e o que torna o quadro ainda mais triste é que nem mesmo sabem o motivo de tal vazio.
Alguns suprem o vazio com o consumo desenfreado e se sentem felizes ao poderem comprar coisas, por um breve momento se sentem saciadas, mas logo vem a descoberta de que as coisas não são eternas e que a sede é de algo eterno.
Outros se divertem gratuitamente em festas promiscuas e sem sentido, passam horas buscando satisfação em músicas, danças e prazeres e naquele momento em que estão se divertindo se sentem plenamente satisfeitos, logo vem a decepção muitas vezes ainda na mesma noite ao colocarem suas cabeças no travesseiro.
Por que é tão difícil entender que não fomos criados para isso? (João 6.35)
Ainda me lembro de um amigo que no anseio de suprir seu vazio se envolveu com o grande mal de minha sociedade, as drogas.
“É uma sensação incrível!”, dizia ele, que se tornou escravo de suas sensações uma vez que a cada momento que tudo o que sentia voltava percebia que tal vazio crescia ainda mais.
Tenho medo de não encontrar sentido para minha vida.(Marcos 8.35)
Medo de uma vida sem significado, Irrelevância.
Afinal, qual é o sentido da vida? Por que eu existo?
A conversão
Hoje percebi que surgi em meio a uma história que já existia antes de mim.
Vejo que ela continuará a existir depois de mim e que não posso fazer nada, por minhas forças, para que isto mude.Assim aconteceu com meus antepassados, assim acontecerá comigo.
Percebi quão frágil eu sou longe daquele que me criou, e descobri que a vida só tem sentido à partir Dele.Ele que é a própria vida(João 14.6)
Descobri que mais do que dar sentido a vida, Nele subsiste a própria vida (Colossenses 1.17) e que todas as coisas são supridas Nele.
Ele é quem mantém todo o universo à partir de suas mãos.
Hoje o propósito inicial foi restaurado em mim, (Romanos 8.29) aquele que me fora prometido me mostrou de fato o que é ser gente. E me mostrou que o criador me ama.(João 3.16)
Aquele que me fora prometido trouxe-me de volta a presença (Efésios 2.18) daquele que me criou, e hoje tudo faz sentido.
O vazio que me surpreendia já não surpreende mais, o vazio que me surpreendia tem o tamanho exato do “Eterno”.
Como é bom ler e compartilhar artigos como este: a eternidade é o único propósito real desta realidade finita e incompleta.
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