quinta-feira, setembro 30, 2010

Mente@Parem o Mundo, eu quero descer!




Este é um texto antigo, de quando eu ainda estava no Seminário.Reflete aquele momento em minha caminhada.Apesar de parecer convocar a revolução (risos) e de que se eu fosse re-escrevê-lo provavelmente mudaria algumas coisas, gostaria de dividi-lo com você.
Boa Leitura!
Hoje mais uma vez sugeriram que eu sou um herege, me rotularam pelas roupas que visto, gente que não sabe quem eu sou.
Gente que não consegue conviver com o diferente, que não consegue aceitar a grandeza de Deus e que querem colocá-lo dentro de uma caixinha. A caixinha de seu sistema pré-concebido e preconceituoso, a caixinha de sua hermenêutica simplista que explica tudo. A caixinha de sua teologia, como se pudéssemos dissecar Deus.
Afinal de contas, em que tipo de Deus nós cremos? A forma que vivemos reflete nossa Teologia? Quem é Deus dentro de nossa cosmovisão?
Estou cansado do meu clube de fim de semana, de ouvir o irmão bater em minhas costas e dizer: “Boa semana!”, sabendo que só o verei e terei que me preocupar com ele no próximo domingo em que a pergunta se repetirá por pura força do hábito.
Estou chateado com nosso sistema eclesiástico burguês que é incapaz de olhar para uma prostituta, de conversar com um mendigo e de olhar para um homossexual sem discriminá-lo. Ah! Mas Deus destruiu Sodoma e Gomorra por causa dos Homossexuais! Nos esquecemos do texto em que a bíblia nos diz que Deus destruiu a Sodoma e Gomorra por não cuidar da causa dos pobres e necessitados, e hoje já entendo porque nos esquecemos deste texto, porque nossas igrejas fazem o mesmo.(Ezequiel 16. 47 a 49).
Fica muito mais fácil colocar a culpa nos “viados”, como nós preconceituosamente os chamamos as escondidas ou até mesmo às claras. Não sou a favor da causa dos homossexuais e estou ciente do que as escrituras dizem, mas estou muito cansado da intolerância e da falta de amor.
Há poucas semanas atrás ao visitar mendigos junto a um pastor de uma comunidade irmã me deparei com uma cena que me deixou transtornado e que marcou profundamente a minha vida. Ele se aproximou de um mendigo e disse: “Que vida miserável que você vive hein? Você não tem vergonha? Você precisa de Jesus!”.
Ao voltar ao templo de sua comunidade o pastor ensinou aos seus como devem agir junto aos moradores de rua: “Meus irmãos, nós temos que ser luz para estas pessoas, elas tem que olhar para nós limpos e bem vestidos e sentir vergonha de estar daquele jeito, então eles perceberão que precisam de Jesus! Não fiquem de papo com eles, de a sopa, fale de Jesus e vá embora!” O mendigo já não estava humilhado o suficiente?
Parem o Mundo que eu quero descer! Parem o Mundo que eu quero descer!
Enquanto a igreja discute se tal melodia é profana ou santa, perdemos a sensibilidade de ouvir o clamor do mundo através de sua própria poesia. Clamores como “quero um amor maior que eu!”, “paz sem vós não é paz é medo!”, “vivemos esperando dias melhores!”.
Por falar em mundo, lembro-me de ter visto Jesus clamando ao Pai em sua oração intercessória  que não nos tirasse do mundo, mas que nos livrasse do mal.(João 17. 15).
Hoje percebi que a igreja não está mais no mundo, a igreja vive em um outro mundo ininteligível de vocabulário próprio, o “evangeliquês”, que sua vestimenta é própria nos dias de domingo e que no seu clube não há lugar para incrédulos. Observação: O incrédulo visita o nosso clube e não temos a sensibilidade de estender as nossas mãos e ao menos os dar as boas vindas, eu já fui melhor recebido em “reuniões seculares”!
Talvez Jesus não fosse bem recebido em nossas igrejas hoje em dia! Como receber a alguém que vive cercado por gente tão simples, que parava para conversar com prostitutas? Que tocava em leprosos e que não tinha onde reclinar sua cabeça?
Tragam de volta o Cristo que conversou com uma mulher que tirava água do poço ao meio dia talvez pela vergonha que ela sentia das pessoas! Uma mulher de má reputação por ter tido cinco maridos e que quando percebeu que Jesus se dirigia a ela se assustou por não estar acostumada a ser bem tratada. Como tu sendo judeu fala a mim que sou mulher e samaritana? (João 4).
Por favor, o Cristo que tocava nos leprosos, que jantava com pecadores e que parava uma multidão para saber qual daquelas pessoas o havia tocado de forma diferente. Depois conversa com uma mulher “insignificante” e “pobre” que era considerada impura por ter uma doença que a fez sangrar por quinze anos e que havia perdido tudo o que tinha por conta dela.
Resgatem o Cristo que inaugura o reino paradoxal em que o último é o primeiro, que quem quer ser servido que sirva, que o maior é o menor e que aquele que é humilde será exaltado. (Mateus 20. 26, Mateus 18. 4, Mateus 11. 29, Mateus 5.3, Lucas 1. 52).
Não são os súditos deste reino chamados de Cristãos ou pequenos Cristos? Eu realmente não consigo ver a figura de Cristo tendo em vista o que meus olhos vêem neste tempo.
O que Vejo é o império existente onde eu paro o meu carro importado em um estacionamento bem localizado e “assisto” um culto junto a pessoas bem vestidas em um ambiente agradável com uma boa música enquanto meus filhos estão sendo cuidados por gente especializada; afinal de contas, eu não mereço? Eu “pago” meu dízimo todo o mês!
Para este tipo de crente é fácil dizer que Deus o predestinou antes da fundação do mundo e que o escolheu para ser exatamente assim como ele o é. O que não é fácil é dizer isso para aquela criança da Somália que já nasceu com desnutrição ou mesmo para um garoto da favela aqui do lado que está com o seu pai atrás das grades.Grades que ele mesmo será o próximo a compartilhar.
Se Deus se arrependeu de ter feito o ser humano eu não sei, mas estou cansado da teologia que rotula tudo como um simples “antropomorfismo” e que não tem humildade para dizer: “Eu não sei!”.
Quero ter o direito de pensar! Quero ter o direito de ler as escrituras à partir das necessidades de nosso tempo! Não venham me dizer que a teologia não muda e que eu não tenho que pensar, só tenho que aceitar!
Se você querido leitor acha que isto é um desabafo você acertou! Se você acha que isso é um protesto acertou de novo! Desta vez quem quiser me criticar ou ridicularizar vai fazer isso com base naquilo que eu realmente disse!
T.S.Eliot disse que em uma terra de fugitivos quem anda na contra mão parece estar fugindo, é exatamente assim que me sinto!
Não digam por ai que menosprezei os nossos pais, os reformadores, ou mesmo que eu menosprezei a nossa história, muito pelo contrário; eu os exalto! Exalto por terem tido coragem de “reler” as escrituras a luz de seu tempo e por terem tido coragem de questionar o sistema predominante! A pergunta que me faço é se teremos coragem de reformar a própria reforma.
Senhor Jesus, me ajude a tirar de meus ombros os pesados fardos que os religiosos de meu tempo tentam me colocar, pois para mim está muito pesado!Quero tomar de seu jugo que é suave e do seu fardo que é leve. (Mateus 11. 29 30)

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